quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Filhos da lua


Os Filhos da lua









O albinismo é uma condição genética na qual há uma ausência de melanina nos tecidos, isto é, os olhos, o cabelo, e a pele são os mais afectados.
A melanina, além de dar cor à pele protege o corpo da luz solar. Por isso, o albino é muito mais sensível aos raios ultravioletas, preferindo a noite para o desenvolvimento de suas actividades, daí o nome filhos da lua.



É uma condição em que ocorre uma falha na produção da melanina, isto é, num indivíduo normal o ADN que é onde está contida toda a nossa informação genética, sob a forma de genes dá indicações aos melanócitos para estes produzirem enzimas que vão proceder a distribuição de melanina pelos tecidos. Num indivíduo com esta condição, essa indicação é nula levando a um albinismo total, ou é dada em número inferior ao normal levando ao albinismo parcial.







É uma disfunção universal, afectando todas as espécies, humanos, animais e até plantas havendo neste caso, uma ausência total ou parcial de clorofila.







Os sintomas que advêm desta condição traduzem-se em ausência parcial ou total de pigmentação nos tecidos, como cabelo, pestanas, sobrancelhas e pele.




Os olhos podem ser vermelhos, devido a ausência total de melanina na retina deixando os vasos sanguíneos totalmente expostos, ou azuis, quando existe alguma presença de melanina.










Os tecidos internos do corpo de um albino são brancos (cérebro e a espinha dorsal), enquanto nas pessoas comuns são escuros.


Como a melanina protege a pele e a retina da acção nociva dos raios solares, as consequências desta condição genética são queimaduras consequentes da exposição ao sol, formação de rugas cutâneas, envelhecimento cutâneo prematuro, desenvolvimento de determinados tumores malignos na pele. Quanto aos efeitos na visão, temos a sensibilidade à luz (fotofobia), movimento involuntário do olho (nistagmus) e perda progressiva da visão (cegueira).



Nos animais albinos, a sua falta de pigmentação torna-os facilmente perceptíveis, quer para suas presas, quer para seus predadores, tornando-os facilmente detectáveis.
Deve-se diferenciar, porém, os animais albinos daqueles que possuem a coloração branca (ou leucísticos). Os leucísticos são animais de pelagem branca mas que ainda assim possuem melanina em seu organismo, como ocorre aos ursos do Ártico.





O albinismo é hereditário e tem carácter recessivo, é uma condição genética transmitida por genes de pais para filhos, e é recessiva porque nem todas as gerações são afectadas por esta mutação.
Na fecundação, se os dois genes mutantes se juntam, as células do bebê não são programadas para produzirem a melanina dando origem a um bébé albino. Se só um dos pais for portador dos genes, o bébé não vai ter sintomas da doença, mas vai ser portador do gene que passará a gerações futuras.













O albinismo afecta uma em cada 20 000 pessoas e um em cada 100 000 animais.


A sua incidência no Homem é mais comum em povos africanos, onde é notória esta mutação genética que envolve a ausência de pigmentação e que vai dar origem a um indivíduo que possuirá um determinado grau de albinismo, isto é, este não irá possuir as características comuns (pele negra, cabelo escuro, etc.) de um casal africano de cor negra.






Superstições populares levam ao massacre de albinos para trazer boa sorte.



A falta de pigmentação na pele, de que padecem esses seres humanos, é um estigma em muitos países na África. Com frequência, eles são acusados de bruxaria e sofrem o repúdio de suas comunidades e familiares. A força da medicina tradicional é grande na África. Presume-se que mais da metade dos africanos se consulta com curandeiros e não utiliza a medicina moderna.
Antigamente, os albinos já sofriam dificuldades por causa de superstições, mas nos últimos tempos iniciou-se uma monstruosa crença que, alimentada pelo feiticismo e pela superstição, faz dos albinos vítimas de um contrabando macabro onde seus órgãos têm subido de preço no mercado africano da magia negra. As barbaridades cometidas contra os albinos incluem, o uso dos seus dedos, braços, pernas, cabelo, pele e genitais como amuletos, e a elaboração, com seu sangue, de uma poção mágica, chamada "Muti", feitas pelos bruxos locais para ajudar aqueles que as ingerem a conseguir fortuna.


Para um albino a África é uma maldição, pois nem de mortos alcançam o seu descanso. Após o falecimento deste a sua família manda colocar sobre o túmulo uma grossa camada de cimento, para evitar que seu corpo seja desenterrado e cortado em pedaços. O assassinato de albinos é um crime associado ao garimpo, uma actividade chave na Tanzânia, onde há importantes jazidas de diamantes, esmeraldas, rubis e safiras. Os centros de minérios são o mercado habitual para este contrabando de órgãos de albinos, onde os garimpeiros são os principais compradores, segundo certas superstições, os albinos dão boa sorte, ou seja para se livrar da morte nas jazidas ou para encontrar melhores veios.


No Zimbabué, devido a crença perniciosa, as mulheres albinas são raptadas, sendo violadas para serem usadas como cura para o HIV.
O maior problema que os albinos enfrentam é o preconceito, a falta de informação, o desconhecimento e a discriminação dos que o rodeiam, estes sofrem dificuldades de adaptação social e emocional, levando à diminuição da sua auto-estima, sentindo rejeitados evitando o contacto social com as pessoas como forma de defesa. Muitos casais separam-se após a mulher ter dada à luz uma criança albina, o homem acaba por rejeitar o bebé, acusando a mulher de ter dormido com um homem branco. Acabando esta, por ser abandonada e rejeitada pelos familiares.


A inserção no mercado de trabalho é outra das dificuldades sentidas devido a aparência e inadaptação relativamente á visão, é necessário informação, educação da parte dos meios de comunicação de forma a tornar a albino como uma pessoa comum.
As medidas para auxiliar os albinos passariam por um registo da população albina no país, desta forma conseguiria traçar-se o perfil sócio económico, uma vez que ser albino “não é barato”, dado que esta condição acarreta elevados custos devido à necessidade permanente de protectores solares e óculos.
Necessitam também, de uma política de saúde pública que contemplasse a distribuição de protectores solares gratuitamente ou incentivos fiscais, assim como, uma campanha de sensibilização para o uso do protector solar nos menos instruídos de forma a diminuir as taxas de cancro da pele.


É urgente uma maior visibilidade nos media sobre esta temática, de forma a apelar a consciência da sociedade para a habituação da aparência dos albinos e consequentemente a sua inclusão na sociedade, nos programas de televisão, nas novelas e outros. Estou a referir-me a documentários elucidativos sobre esta condição, e não a papéis dados a actores albinos, cujas personagens encarnam pessoas do mal como vampiros, pessoas em estado terminal, ou pessoas do além que só vão alimentar o misticismo, o preconceito à volta de esta condição.
Os albinos precisam de convénios que garantam atendimento e tratamento oftalmológico, dermatológico, psicológico e genético. Necessitam de um atendimento específico que garanta acompanhamento desde o nascimento do albino.
A longevidade de um albino é igual a nossa, se este tiver os cuidados necessários, o que dita a sua sentença é a falta destes.
Muitas crianças albinas passam a infância inteira sem determinados cuidados essenciais, por falta de informação da família e orientação dos órgãos públicos e acabam desenvolvendo mais rápido as consequências da doença.



“A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar.”
Martin Luther King

Em jeito de conclusão devo dizer que, por todos os motivos referidos anteriormente, todos temos direito à inclusão na sociedade, direito à vida, direito à educação e direito à diferença porque todos nos merecemos ser felizes e aceites com todas as nossas desigualdades.
Até porque são os cidadãos que ditam as discriminações.


Porque somos todos seres humanos. Somos iguais e tão diferentes. Somos únicos.





Manuela Maio